DEFESA DE DOUTORADO: “A política, suas partilhas, nomeações e litígios: Ranciere e a sociologia”, por DANIEL CARDOSO DE OLIVEIRA

Data: 17/04 às 15h

Local: F410

Área de Concentração: Filosofia.

Orientador: Luiz Camillo Dolabella Portella Osorio de Almeida.

Resumo:

A partir da crítica de Rancière à sociologia, o objetivo desta tese é apresentar a singularidade de sua “teoria” política, qual seja, a “razão” do dissenso como caminho para uma emancipação possível e sempre inacabada. A leitura passa pelo cruzamento da pretensão filosófica ao governo, com a necessidade da sociologia de escapar da destinação de apêndice da economia, avançando sobre o território inaugurado por Platão na formulação de narrativas-discurso (mythos) de síntese comunitária. Para Rancière, a política é sobre-determinada pela narrativa-discurso de ambas (sociologia e filosofia), que fornecem interpretações e explicações suplementares aos dados das ciências econômicas, demográficas, estatísticas e sobre a própria circulação da opinião. O princípio desse processo é o da pressuposição de uma retração do real sobre suas evidências e fatos, a dissimulação da realidade em si mesma e por si mesma, que demanda uma capacidade de correção da opinião que restaure a unidade perdida do ser e da aparência, pelo sentido comum. Assim, a doxa é capturada por uma teoria moderna da opinião correta. A tese aposta que a crítica elaborada por Rancière contra o que na sua avaliação é um “anti-platonismo platônico” de Bourdieu, pode ser aproveitada para pensar contextos sociológicos distintos. Muito embora será necessário fazer referência às objeções levantadas sobre os “limites” dessa crítica, em especial por Charlote Nordmann e Alberto Toscano, não é de nosso interesse nos demorar excessivamente nesse trabalho por dois motivos. Primeiramente, porque para ser justa tal avaliação demandaria uma leitura amadurecida sobre a obra e o corpo de comentários de ambos os autores. Em segundo lugar, porque a questão da demarcação dos “limites” do autor é também uma camisa de força para o comentário. A crítica ao “sociólogo-rei”, ressoa em uma série de conceitos importantes internos à obra de Rancière, como o de “Real-empirismo”. Ter de se justificar continuamente quanto aos limites diante da autoridade de Bourdieu é já fracassar como uma ferramenta crítica independente. Em outras palavras, os limites da crítica de Racière a Bourdieu interessa apenas e sobretudo aos Bourdiesianos. Nosso foco principal será a articulação de uma comparação original do princípio democrático do sorteio, presente em O ódio a democracia e o mito delirante das cigarras no Fedro, comentado em Le philosophe et ses pauvres, com a sociologia de redes, cujas formas de analogia transpõem sub-repticiamente para a linguagem científica contemporânea a metáfora da vida comunitária uníssona (o super-organismo) como colmeia ou formigueiro. Formigas não sonham ou deliram como nós. A unidade representacional do formigueiro se desmancha na dualidade do mito em que a cigarra introduz a música como princípio de desorganização do espírito do trabalho; mito sociológico pelo qual se reconhece uma “alma” trabalhadora e uma “alma” nobre pela sua preguiça e ou resistência ao sono, por não se deixar levar pelo canto das cigarras no calor do meio dia; mito político daqueles que lutam contra o sono e conspiram ao anoitecer. Urge refazer o nó da opinião científica numa época em que as ciências da opinião são capazes de reconstituir e até mesmo produzir a “opinião verdadeira” de todo aquele que opina a através de seus metadados.

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